O Carioba: O pior momento para mansão de seis milhões
A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta. Não há dúvidas de que Flávio Bolsonaro é, entre os filhos presidente, aquele cuja carreira política tornou-se a mais emblemática dentro do consórcio familiar de políticos dos Bolsonaro. Sua militância nos movimentos conservadores rendeu mais de quatro milhões de votos e uma cadeira de quase uma década no Senado Federal. Tudo conquistado com muito discurso patriótico e, claro, indignação contra a corrupção. Evidentemente, indignar-se diante do quadro de corrupção sistêmica no Brasil é dos sentimentos mais comuns entre brasileiros, pouco importa posição ideológica que estejamos.
Mal pisou no Senado e Flávio se torna manchete de todos os periódicos. Está tudo sob investigação e não há trânsito em julgado de nada, portanto: culpado mesmo ele não é. Mas há indícios fortes em torno das rachadinhas na ALERJ. Para quem viu sua carreira política crescer associada ao simbolismo do discurso ético, Flávio pode ser tido como a grande pedra no sapato de seu pai, o presidente Jair. Os demais, Eduardo e Carlos, por mais que surjam ocasionalmente metidos em travessuras, acabam sendo úteis ao discurso do grupo. Mas Flávio impõe uma mancha naqueles que vieram para ‘acabar com o tudo o que está aí’.
Aliás, não à toa que diante de tantas evidências poluídas pela altíssima suspeição, é comum a muitos eleitores dissociarem criatura e criador, “Eu votei no pai, não no filho”.
Se Flávio compra uma mansão de R$6 milhões de reais, e ainda financia dentro do sistema bancário, com o nome assinado embaixo, há de se supor que o senador agiu dentro da legalidade. Ou a ingenuidade teria chegado a níveis assombrosos. De qualquer forma, a vida privada do senador pouco importa. Ou até certo ponto importa, já que o patrimônio de agentes políticos não é resguardado por sigilo.
Num momento em que vemos o desemprego perdurar e a miserabilidade se alastrar pelo país, numa luta sem sucesso contra o coronovírus, não é exatamente prudente que um senador da república, alvo de investigações e que carrega os ônus e bônus de ser filho do presidente, compre uma mansão de seis milhões de reais.
O luxo costuma não ser bom acompanhante do serviço público. As imagens da mansão rondando pelas redes sociais acabam sendo justamente o que os brasileiros não precisam nesse momento. E não há dúvidas de que é mais uma situação desagradável a respingar na imagem do presidente da república.
Bom senso senhor senador!